Amor Que Não Se Mede |
Fim de
noite, o pai já cansado e seu filho apresenta-se visivelmente emocionado, em
prantos, ofegante para um longo e penoso desabafo.
-Pai, pai!
-Pai, pai!
-Diga,
meu filho. O que houve? Assim você me deixa preocupado.
-Ah, meu
pai. Eu precisava muito desabafar com o senhor sobre umas coisas que
aconteceram enquanto o senhor esteve fora. Mas ao mesmo tempo fico receoso. O
povo vive dizendo que não sou seu filho verdadeiro e isso me trava na hora de
conversar com você.
-Meu
filho, não diga isso jamais. Ainda que não seja seu pai biológico, fui eu quem
te criei e fiz ser quem hoje és. Pai é quem cria.
Convencido
do amor de seu pai, o filho cai em prantos ainda maiores e despeja sobre o
peito de seu velho suas verdades.
-Sabe
pai, desde que o senhor entrou em coma, em 2010, minha vida mudou. Sem o
senhor, minhas notas e rendimentos caíram muito. Só fiz vergonha. Pra ter uma
noção fui o pior da classe naquele ano e quase fui reprovado.
-Nossa,
meu filho, mas por quê?
-Ah pai!
Sem o senhor tive que morar noutro lugar e não fui tão bem recebido. Sentia
muito a sua falta.
-Não
ligue, meu garoto. O importante é que no ano seguinte você se recuperou... Não
é?
-Que
nada, velho! Dei uma melhorada, comecei o ano bem, mas terminei caquético. Não
corri o risco de ser reprovado, mas ainda assim foi um ano pra se esquecer.
O pai
assustado e convencido da falta que fizera abraça seu filho e fica apreensivo
pelo próximo relato. Na torcida que seja algo bom em relação ao garoto. Mas mal
termina o abraço e o menino já começa.
-Mas pai,
2012 foi horrível. Foi o ano em que mais senti saudade sua. Fui chacota dos
garotos da classe, faziam piadas comigo. Um bullying interminável. Confesso que
quase joguei a toalha. Só resisti porque tenho amigos, e não são poucos.
A essa
altura o pai já caia em seu rosto, lacrimejando em jatos, deixando de lado o
orgulho e sucumbindo à sua humanidade paterna.
-Filhão,
minha vida, meu tudo. Esqueça isso, seu pai está aqui. Sei que sofreu, mas
estou aqui. Não tem porque temer. Esse choro seu, ainda que compreensível, é
desnecessário. Pra que tristeza? Eu voltei!
-Não pai.
Esse choro não é de tristeza, é de alegria!
-Alegria?
Indaga o pai.
-Sim,
alegria. Porque esse ano o senhor voltou e eu deixei de estar desprotegido.
Agora eu tenho quem me defenda, dê abrigo e zele por mim. Comecei o ano
desacreditado, mas aqui estou. Já aprovado e pronto para o ano seguinte. Os que
riam de mim, hoje sofrem para que possam desfrutar do gozo da aprovação junto
comigo. E Pai, fui tão bem, mas tão bem que consegui uma bolsa pra ano que vem
estudar no continente.
O pai,
boquiaberto de alegria, dá um longo abraço seguido de um paternal beijo no
garoto e não se contendo em emoção promete ao filho que contaria ao mundo os
feitos de seu herdeiro. Sem pensar duas vezes o garoto promete o mesmo sobre o
pai, cada um corre para a janela de seus respectivos quartos e bradam, de todo
pulmão os agradecimentos seguidos de seus nomes, pai e filho.
-Obrigado,
meu filho FLAMENGO, por tudo. Sem você seu velho pai não teria o mesmo brilho,
a mesma força, o mesmo reconhecimento. No que precisar, conte comigo. Sabe que
eu sou seu!
-Obrigado
MARACANÃ. Você é o melhor pai do mundo. Só prometa que nunca mais vai me
abandonar.
E assim
terminou a noite de quarta feira para pai e filho extremamente felizes na
simbólica cidade do Rio de Janeiro.
FLAMENGO
ATÉ NA REENCARNAÇÃO!
Nenhum comentário:
Postar um comentário